Thamara Laila
as pontes que não vi queimar

hoje me dei conta que queimei a ponte, mas não foi como naquelas cenas de filme, sabe?
onde fogo começa a tomar conta de tudo e, do outro lado, estampado no olhar de quem fica para se despedir encontramos o desespero, a tristeza e, em alguns, até um certo alívio. onde o aumento das labaredas fazem arder na pelo o fim daquele ciclo.
no meu caso, parava em cada curva do caminho e ateava fogo em uma pilha. como era mais importante seguir, jamais olhei por cima do ombro para checar se havia chamas. até ontem, durante a escrita, quando me questionei: e se eu voltar atrás?
e então, cinco anos depois, me dou conta que não há mais ponte, nem mesmo sinal de um caminho. a terra engoliu as cinzas e não há rastros a serem perseguidos. não há nada a ser conquistado e olhado no que já sei foi.
algumas partes em mim começaram a chorar. primeiro, aquela que queria ter visto o fogo queimar e sentir na pele todo o drama do fim. segundo, aquela que se sente cansada de caminhar. por último, a que não faz ideia de como seguir pelo caminho que está aberto à sua frente.
olhei para o céu em busca de guiança e comecei a sentir meus pé molhados. ao olhar para baixo, me dei conta que todo o choro se transformou em poça. e na poça, havia a resposta. não era hora de seguir, nem de atear fogo. não é momento do movimento externo, mas sim hora de encarar todas as partes que as águas querem revelar.